Este ano, o nosso belíssimo TJA completou 110 anos. Para comemorar a data especial, posto para vocês um pequeno dossiê que fiz, contando um pouco dessa trajetória.
|
O theatro em construção em 1910. Acervo Lucas |
Vemos o Batalhão de segurança ao lado do recém-inaugurado
Teatro José de Alencar. Foto de 1911.
Referência artística e turística, o Theatro José de
Alencar desempenha importante papel na vida cultural de Fortaleza.
Um dos maiores
símbolos da cultura cearense, o nosso “Theatro” preserva no nome, a grafia de
outrora. Tão grandiosa quanto às apresentações que entram em cartaz no José de
Alencar, é a sua estrutura. O nome é uma homenagem a um dos maiores escritores
do Ceará.
Na segunda metade do século XIX, passou-se a
reivindicar das autoridades, um teatro oficial para a Fortaleza, visto que as
nossas casas de espetáculos tinha existência efêmera. A atividade teatral era movida
por grupos amadores.
|
Recém inaugurado em 1913.
|
Em
1894, ocorre o lançamento da pedra fundamental pelo presidente do Estado Coronel
Bezerril Fontenele, que fincou sua fundação no centro da Praça do Patrocínio (posteriormente Praça Marquês do Herval e hoje Praça José de Alencar). O primeiro
projeto foi de lssac Amaral e Roberto GO Bleasby e deveria ser construído sobre
os alicerces de uma antiga obra que deveria ter sido um mercado a qual havia
sido abandonada. Em 1896, o Presidente rescindiu o contrato da construção e
submeteu a obra a exame, sendo a mesma condenada. O presidente decidiu então mandar
construir a versão atual no local onde Adolfo Herbster havia projetado o Teatro
Santa Tereza, em 1864, área que estava servindo de pátio para os cavalos do
Batalhão de Segurança, cujo quartel ocupava a área, hoje, utilizada pelos
Jardins do Teatro.
|
Rua Liberato Barroso, vendo-se o theatro. Foto provavelmente da década de 40. |
A opereta ‘A Valsa Proibida’ mobilizou a cidade nos anos 40, quando estreou sua temporada no Teatro José de Alencar.
|
A opereta ‘A Valsa Proibida’ do cearense Paurillo Barroso em 1964. |
Em
1904, no Governo de Nogueira Acióli, foi oficialmente autorizado à construção
do Teatro José de Alencar, através da lei n° 768, de 20 de agosto. Dois anos
depois, em 06 de outubro de 1908, tiveram início às obras, quando a bela estrutura metálica, importada da
Escócia, já se apresentava exposta em praça
pública depois de cruzar o Oceano Atlântico. A direção da obra ficou a cargo de
Raimundo
Borges Filho, oficial do Exército - Comandante do Batalhão de Segurança do
Estado e genro do Presidente do Estado, Nogueira Acióli. A execução coube a Walter
Mac Farlanes & Co e Serrancen Fondri, de Glascow, Escócia. O engenheiro
responsável pela elaboração da planta foi o Militar Capitão Bernardo José de
Melo, devidamente
autorizado pela Assembleia Estadual
por força da Lei n. 768, de 20 de agosto de 1904. A estrutura metálica deveria
ter fachada em estilos Art Nouveau e Coríntio, segundo os preceitos dos
chamados "teatros-jardins".
|
Acervo Assis Lima |
A festa de inauguração aconteceu numa linda
sexta-feira, dia 17 de junho de 1910, com direito a Concerto apresentado pela
Banda Sinfônica do Batalhão de Segurança, sob a regência dos Maestros Henrique
Jorge e Luigi Maria Smido, discurso proferido por Júlio César da Fonseca - orador
oficial do Instituto do Ceará, apresentações culturais e show pirotécnico - Na
praça, morteiros, foguetes, rodas de fogo e girândolas num milagre pirotécnico,
abrilhantaram a festa.
|
Foto provavelmente da década de 40. |
Antigamente, o espaço compreendido da rua Liberato Barroso entre a rua General Sampaio e a rua 24 de Maio (lado sul da praça),
era ocupado por duas instituições, o Batalhão de Segurança (Polícia Militar) e a Escola Normal Pedro II - Prédio hoje ocupado
pelo IPHAN, até que em 1908, parte do prédio do Batalhão de Segurança
foi cedida pelo Governo do Estado para a construção do teatro.
O primeiro espetáculo foi apresentado no dia 23 de
setembro de 1910, pela Companhia Dramática Lucile Perez, com a peça “O Dote”, de Artur Azevedo. O público lotou o teatro e os artistas foram muito
aplaudidos.
|
Arquivo Assis Lima |
|
Centro de Saúde ao lado do TJA |
O José de Alencar foi projetado para ser um
teatro-jardim, mas o jardim propriamente dito, só foi construído em 1975 - 65
anos após a inauguração do teatro, em uma das reformas pelas quais passou o
equipamento. O jardim ocupa todo o espaço vizinho ao Teatro, na ala leste, em
área que já sediou o Quartel de Cavalaria de Fortaleza e um Centro de Saúde Barca Pelon,
demolido em 1973.
|
O Centro de Saúde que foi demolido em 1973, para a construção do jardim do teatro. |
Jornal Correio do Ceará de 8/01/1959. Manchete: Farras Carnavalescas no Teatro. Concorridas Eleições de 1958, descaracterizaram o nosso TJA. Acervo Lucas
A estrutura possui duas fachadas: a primeira
em estilo eclético, mas com predominância do neoclássico, e a outra em Art Nouveau,
que chama atenção pelos belos vitrais coloridos. Na boca de cena, acima das
cortinas, estão pintados personagens de José de Alencar. Outros dois prédios em
anexo - incorporado na reforma realizada nos anos 90, fazem parte da estrutura
do Teatro José de Alencar.
|
Registro dos anos 60. Arquivo Nirez |
|
Registro de 1962. Acervo Lucas |
No primeiro bloco, temos a sala do foyer com
capacidade para 120 pessoas, no segundo, a sala de espetáculos propriamente
dita apta a receber 800 pessoas, uma sala de aula transformada em espaço
cênico, com capacidade para até 120 pessoas, a Sala de Teatro Nadir Papi Saboya,
um palco a céu aberto, com capacidade para até 1,2 mil pessoas, um teatro de
bolso com 90 lugares, o Teatro Morro do Ouro e um palco a céu aberto, com
capacidade para até 350 pessoas, além da Praça Mestre Pedro Boca Rica.
Tombado
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1987, o
Teatro José de Alencar passou por algumas reformas no decorrer dos anos:
- 1918 - Recebeu instalações elétricas, trocou o piso de betume, do espaço até então usado
como jardim, por ladrilhos hidráulicos e foram agregadas duas escadas internas,
semelhantes às já existentes - Fundidas no Ceará.
- 1938 - Passa por
restauração, orientada pelo engenheiro José Barros Maia.
- 1957 - As cadeiras com assentos de
palhinha (estilo austríaco) são substituídas por poltronas de estofamento
plástico.
- 1974 - Completamente restaurado (Recomposição da estrutura metálica, das cadeiras de
palhinha, que retornam ao seu lugar de direito, e o acréscimo do
jardim lateral a leste do edifício, com projeto paisagístico do arquiteto Roberto Burle Marx).
- 1991 - Houve a recomposição
do jardim e instalação de espaço cênico ao ar livre para apresentação de
espetáculos. Como parte desta reforma foi construído do lado oposto ao jardim
um prédio anexo, com dependências administrativas. No anexo funcionam um
auditório para 100 pessoas, a Galeria de Artes Ramos Cotoco, biblioteca
especializada, bar e cozinha industrial. No pátio um palco ao ar livre onde são
apresentados espetáculos produzidos pelo teatro.
- 2013 - 22 anos depois da última reforma (que começou
em 1989, durando dois anos), o Teatro, que por falta de manutenção se
encontrava com a estrutura enferrujada, piso desgastado e portas e janelas quebradas,
teve toda a pintura recuperada, incluindo também alvenaria, estruturas de
ferro, revestimentos, pisos, portas, janelas, revisão elétrica e
hidrossanitária, requalificação dos jardins e do sistema de prevenção de
incêndio. O valor estimado foi de R$ 2.338.198,83, provenientes do Tesouro
Estadual.
|
Reforma do Teatro José de Alencar em 1975. Arquivo Assis Lima |
Por ser considerado um importante Monumento Nacional,
o teatro recebeu tombamento federal ainda em 1964, mas somente foi inscrito no
Livro do Tombo das Belas Artes em 1987 - Processo nº 650-T-62, Livro do Tombo
das Belas-Artes, fl. 87, inscrição nº 479, data: 10.08.1987.
O corpo da sala de espetáculos é todo de aço
e ferro fundido, com três pavimentos além do térreo, onde ficam a plateia, as
frisas, camarotes, torrinhas, balcão e elegantes escadarias.
Na parte
superior da fachada, observamos a face alegre de Baco, deus grego do vinho e
inventor do teatro, ladeado por duas musas e no andar superior, salão nobre ou
foyer, dois anjinhos (Cupido e Psiqué), no frontal da porta principal,
representando a união do corpo e da alma.
|
Postal Teatros Brasileiros de 06/12/1978. |
Em seu
interior, encontram-se raras pinturas do cearense Ramos Cotoco -pintou os nomes
das obras de José de Alencar sobre as grades das frisas e as figuras femininas
no teto da sala de espetáculos, do pernambucano Jacinto Matos - pintou os
florões no forro da sala de espetáculos, da artista paraense Paula Barros - pintou
os retratos de Carlos Gomes e de José de Alencar, além da representação das
três artes – pintura, música e drama – na cúpula oval da sala de espetáculos,
do carioca Rodolfo Amoedo, que foi aluno de Victor Meireles e professor de
Portinari - pintou a moldura circular, acima do Pano de Boca, de João Vicente - pintou
as imitações de mármore nas paredes da Boca de Cena e do cearense Gustavo
Barroso, escritor e historiador, que auxiliou o arquiteto mineiro Herculano
Ramos na pintura do 1º Pano de Boca, representando o encontro de Iracema com o
Guerreiro Branco.
História em fotos:
Exposição da nova frota de carros Packard, do Posto Mazine, em 1939, em frente o TJA.
Desfile de um dos Packard.
O Teatro
José de Alencar funciona de terça a sexta, das 9h às 12h e das 14h às 17h. Sábados
e domingos, das 13h às 17h.